terça-feira, 2 de dezembro de 2008



Houve uma época em que eu não gostava de Lovecraft. Achava que ele escrevia num estilo "gótico gorduroso". Na verdade, eu era meio bocó. Tinha a mania de tripudiar em coisas que, intimamente, apreciava. Uma espécie de masoquismo adolescente. Hoje, sei que Lovecraft escrevia em "gótico gorduroso" porque podia. Ele era insano, e isso desculpa o excesso de adjetivos. Por acaso o Poe conseguiria falar de horrores cósmicos com seu idioma simbolista afrancesado? Claro que não. Cthulhu nos obriga a ser um pouco kitsch.

5 comentários:

Dnl disse...

Eu vi um documentário da televisão argentina que relacionava o uso de adjetivos com um gosto pessoal pela literatura inglesa do século XVIII-XIX. Aparentemente o avô de Lovecraft tinha um porão cheio de livros e publicações da época.

Urubu Antigo disse...

Para mim, todo escritor que presta tem de estar um pouco atrás de seu tempo, e não à frente. Quem aguenta pós-modernos e pós-pós-modernos? Só os pós-pós-pós-modernos. Prefiro o pré-modernismo.

Fernando Ferrari disse...

Eu gosto muito de Lovecraft, mas ele demanda paciência.
Todo mundo sabe que ele vai colocar um horror cósmico, 2/3 do livro é o narrador te avisando que viu coisas que nenhum homem devia ter visto, todos os personagens principais dele são homens de ciência que envarendaram para o misticismo (pelo menos dos contos maiores e livros).
E daí? É que nem filme de zumbi: tem mulher pelada, cadáveres comendo gente viva, adolescentes bebendo cerveja, pessoas com espingardas ensandecidas e militares - muitas vezes NA MESMA CENA. Mas é do caralho igual.

Anônimo disse...
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Urubu Antigo disse...

Precisamente uma das coisas que eu acho massa é que ele avisa que vai ter algo horrível, e mesmo assim, quando a coisa aparece, tu achas horrível mesmo.