terça-feira, 11 de novembro de 2008

Resenhas bárbaras, 1 - "I reckon that"



Resolvi começar hoje a noite a colocar umas resenhas aqui. Acontece que às vezes vejo um filme, e tenho várias coisas para comentar, e nem sempre minha noiva está por perto para ouvir (agora por exemplo ela está dormindo). Então sobrou para vocês. Vou começar com resenhas de faroeste, e em breve prepararei um artigo explicando ou tentando explicar porque diabos esse gênero me obceca. O filme de hoje é -

Josey Wales, o Fora da Lei (The outlaw Josey Wales, 1976)
Direção - Clint Eastwood
Com Clint Eastwood, Chief Dan George, Sandra Locke, John Vernon et alii.


Ele tem uma cicatriz que vai do olho até o queixo. Cospe de lado quando discorda de alguém. Grunhe sempre a mesma frase – “I reckon that” – quando concorda. Por onde passa, ele deixa um rastro de gente morta, e mesmo assim é o personagem mais querido e simpático de Clint Eastwood. Ele é o renegado Josey Wales.

Outro faroeste “revisionista”, este filme (um dos melhores dirigidos por Eastwood) se distingue de outros títulos da época pelas boas intenções – as quais não estragam a narrativa com sentimentalismos xaropes, ao contrário do que acontece em muitos espécimes holywoodianos atuais. Num período em que os melhores westerns haviam se tornados cínicos e corrosivos, Josey Wales trata de passar uma mensagem algo ingênua, mas inegavelmente sedutora, sobre a possibilidade de convivência entre culturas e raças. “Governos não convivem. Quem convivem são as pessoas”, diz o personagem-título a um vizinho comanche, e não podemos deixar de concordar.

O querido Clint interpreta um rancheiro que vê a família ser chacinada por tropas da União, une-se aos Confederados e, ao fim da guerra, é um dos poucos guerrilheiros sulistas que se recusam a jurar lealdade aos Estados Unidos da América. A iconoclastia do filme está no retrato negativo que traça do exército estadunidense e do lado vencedor da Guerra Civil, o Norte dos novos-ricos, geralmente glamourizado por Holywood. Embora seja uma espécie de antípoda aos épicos jingoístas sobre a cavalaria estadunidense da década de 40, o filme tem um certo tom de nobreza silenciosa, um senso de certo e errado que lembra as obras daquela época menos cética. (o que não é necessariamente, embora às vezes possa ser, um elogio) . O personagem principal mistura o estoicismo rabugento de John Wayne ao charme sombrio do “Homem Sem Nome”, que o próprio Clint interpretou nos filmes de Sergio Leone. Além disso tudo, essa pequena obra-prima tem um dos melhores personagens indígenas de Holywood, um velho cacique cherokee que passa o filme se arrependendo por ter-se deixado “civilizar” pelo homem-branco-anglo-saxão. Uma história envolvente e, para quem ainda tem coração a essas alturas do campeonato, emocionante.

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